terça-feira, 4 de setembro de 2012

A Palavra do Papa


O casamento é para sempre?


Durante o encontro mundial das famílias, em Milão, no início de junho, o Papa Bento XVI respondeu a 
uma pergunta sobre o “até que a morte nos separe”...Santidade, somos Fara e Serge, e vimos de 
Madagáscar. Iniciamos o noivado há quatro anos. Os modelos de família que predominam no Ocidente não nos convencem, mas estamos cientes de que também muitas tradições da África precisam ser superadas. Sentimo-nos feitos um para o outro; por isso, queremos casar e construir um futuro juntos. Queremos também que cada aspecto  da nossa vida seja orientado pelos valores do Evangelho. 
Mas, falando de matrimônio, há uma palavra que, mais do que qualquer outra, 
nos atrai e, ao mesmo tempo, nos assusta: o “para sempre”...
Caros amigos, contem com a minha oração neste caminho do noivado. Espero que possam criar, com os valores do Evangelho, uma família “para sempre”. 
Vocês aludem a diversos tipos de casamento. Mesmo na Europa – verdade seja dita –, até o século XIX, predominava um modelo de casamento diferente do atual: muitas vezes, o casamento era, na realidade, um contrato entre clãs, no qual se procurava manter o clã, abri-lo ao futuro, defender 
as propriedades, etc. A escolha dos noivos era feita pelo clã, esperando que as coisas funcionassem um com o outro. Em parte, sucedia assim também em nossos países; lembro-me de uma cidadezinha, onde eu estudava, em que as coisas ainda se passavam em grande parte desta maneira.Entretanto, com o século XIX, chega a emancipação do indivíduo, a liberdade da pessoa, e o casamento já não 
se baseia na vontade alheia, mas na própria escolha; começa-se pelo namoro, passa-se ao noivado e, depois, vai-se ao casamento. Naquele tempo, estávamos todos convencidos de que este fosse o único modelo certo, e que o amor, por si mesmo, garantisse o “para sempre”, já que o amor é absoluto, 
quer tudo e, consequentemente, também a totalidade do tempo: é “para sempre”. 
Infelizmente, a realidade não é bem assim! O enamorar-se é lindo, mas, talvez, não sempre perpétuo, tal 
como o sentimento, que não dura para sempre. Vê-se, pois, que a passagem do namoro ao noivado e, depois, ao casamento requer várias decisões, experiências interiores. Como disse, o sentimento do amor é lindo, mas deve ser purificado, deve seguir por um caminho de discernimento, isto é, devem entrar também a razão e a vontade; devem unir-se razão, sentimento e vontade. 
No rito do matrimônio, a Igreja não pergunta: «Você está enamorado?» Mas:  «Você quer?»,  «Você está decidido?». Ou seja: o enamorar-se deve se transformar num amor verdadeiro, que envolva a vontade e a razão num caminho – o caminho do noivado – de purificação, de maior profundidade, de modo que o homem inteiro, com todas as suas capacidades, com o discernimento da razão e a força da 
vontade, possa dizer: «Sim, esta é a minha vida». Penso muitas vezes nas bodas de Caná. O primeiro 
vinho deixou os noivos muito felizes: é o enamorar-se. Mas não dura até ao fim: deve aparecer um segundo vinho, isto é, deve crescer, amadurecer. Um amor definitivo, que se torne realmente “segundo vinho”, é mais lindo, é melhor do que o primeiro vinho. E é isto que devemos procurar. Para isso, é 
importante que o “eu” não fi que isolado, “eu” e “você”, mas que sejam envolvidos também a comunidade paroquial, a Igreja, os amigos. Tudo isto – a personalização plena e justa, a comunhão de vida com os outros, com as famílias que se apoiam umas às outras – é muito importante, e só assim, neste envolvimento da comunidade, dos amigos, da Igreja, da fé, do próprio Deus, é que cresce o vinho 
que dura para sempre

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