terça-feira, 4 de setembro de 2012


Um intruso na família

Opiniões que fazem opinião
Diante da derrocada dos valores familiares humanos 
e cristãos, pareceu-me interessante a seguinte crônica.
Alguns anos depois que nasci, meu pai conheceu uma 
estranha, recém-chegada à nossa pequena cidade. Desde o 
princípio, meu pai fi cou fascinado com esta encantadora 
personagem e, em seguida, a convidou a viver com nossa 
família. A estranha aceitou e desde então tem estado 
conosco. Um intruso simpático e maldoso, sem cerimônia.
Intrigante o lugar que ela ocupou em nossa 
família. Meus pais tentavam nos dar boa educação. 
Minha mãe nos ensinou o que era bom e o que era mau, 
e meu pai a obedecer. Eles nos transmitiam valores éticos. 
Ensinavam-nos a rezar. Mas eles eram apenas instrutores 
complementares, porque a estranha intrometida era nossa 
verdadeira educadora. Mantinha-nos enfeitiçados por 
horas. Ela falava sobre todos os assuntos: política, esportes, 
história, ciência, família e comportamentos. Fascinante, 
fazia-nos rir e chorar. Ela misturava coisas boas às ruins, 
como fazem todos os promotores do mal. Ela tirou a oração 
da nossa casa. Destruiu também a conversa, o diálogo 
sadio da família. Ela ensinou charmosamente que o namoro 
indecente, o adultério, o ódio, a vingança, a violência eram 
coisas normais. A estranha nunca parava de falar, mas o 
meu pai não se importava. Às vezes, minha mãe dormia e 
se levantava cedo, enquanto o resto de nós fi cava escutando 
a intrusa até tarde. Ela divertia, mas nos estressava. 
Meu pai dirigia nosso lar com certas convicções 
morais, mas a estranha nunca se sentia obrigada a honrá-
las. Aliás, o que era a normativa dela era o dinheiro e não 
a ética. As blasfêmias, os palavrões, por exemplo, não 
eram permitidos em nossa casa. Entretanto, nossa visitante 
de longo prazo, usava sem problemas sua linguagem 
inapropriada que, às vezes, queimava meus ouvidos, fazia 
meu pai se retorcer e minha mãe se envergonhar. Pelo 
menos, no começo. Meu pai nunca nos deu permissão para 
tomar álcool. Mas a estranha nos animou a tentá-lo e a 
fazê-lo regularmente. Falava livremente sobre sexo. Seus 
comentários eram, às vezes, evidentes, outras sugestivos, e 
geralmente vergonhosos.
Agora sei que meus conceitos sobre relações foram 
infl uenciados fortemente durante minha adolescência pela 
estranha intrusa. Repetidas vezes a criticaram, mas ela 
nunca fez caso dos valores de meus pais; mesmo assim, 
permaneceu em nosso lar. Passaram-se mais de cinquenta 
anos desde que ela veio para nossa casa. Ela mudou de 
roupa e penteado. Mas continua a formar conceitos, a 
destruir a união das famílias, a ensinar moral não cristã e 
permissiva. Ela (de)forma os jovens, entretém os adultos e 
é babá corruptora das crianças.
Seu nome? Nós a chamamos de Televisão... Agora 
ela tem um marido, que se chama Computador; seus fi lhos 
são o Tablet, o iPad, e um fi lho adotivo, o Celular...
Aparelhos, digo eu, úteis se 
bem utilizados; são perniciosos quando 
sem controle, criando dependência, 
destruidores do diálogo sadio e 
verdadeiros veículos de lixo. 

Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica
Pessoal São João Maria Vianney

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