quinta-feira, 27 de setembro de 2012


Submissão de homem livre 

Durante as férias, por uma manhã de julho último. Uma chuva fina e persistente retinha-me prisioneiro no meu quarto. O carteiro bate e entrega-me a correspondência... Não me recordo mais das cartas recebidas naquele dia; mas nunca esquecerei o transtorno que senti ao ler uma circular anunciando a ruptura com a Igreja de um sacerdote e de alguns leigos que eu conhecia muito bem: “Impossível obedecer ao mesmo tempo aos imperativos de Roma e às inspirações do Espírito Santo”, escreviam eles em essência,
 “É preciso escolher, e nós escolhemos...”
Foi nesse dia que resolvi endereçar-vos este bilhete.
Nós, sacerdotes, vos alertamos muitas vezes sobre os perigos que a carne e o dinheiro vos fazem correr. Mas não haverá descuido excessivo de nossa parte em deixar de vos colocar em guarda contra certo espírito de independência? Não me refiro ao desejo muito legitimo de melhor compreender a fim de melhor obedecer, mas a essa tendência em criticar e discutir os ensinamentos e as decisões da Igreja: quer se trate de moral social ou de moral conjugal, quer se trate da condenação da Ação Francesa ou da condenação do Comunismo, da definição do Dogma da Assunção... Espírito de independência mais sutil ainda que nos leve a escolher entre as verdades: somos atraídos pela Ressurreição, mas deixamos de lado a Paixão; dedicamo nos à caridade, mas recusamos a lei da abnegação; meditamos o discurso após a Ceia, mas esquecemos o Sermão da Montanha; ouvimos de boa vontade falar sobre o céu, mas acolhemos com um sorriso de 
ceticismo o pregador que faz alusão ao inferno.
Se o amor de Deus e da Igreja fosse profundo, cedo desapareceria este espírito de independência. Pois que o amor aspira à submissão, submissão ativa - que é oferta de si mesmo. Ser submisso a Deus e à Igreja, não é assumir uma atitude de escravo, mas sim esposar os pensamentos e as Vontades de Deus e da Igreja; ser submisso, é estar ligado - no sentido da ligação entre o ramo e o tronco. Então a graça circula
 e os frutos são abundantes e saborosos.
A fim de chegar a esta submissão profunda, é preciso, pois, amar, pois que é o amor que gera a submissão. Não é dos serviços de menor valia, aquele que vos é prestado pelas Equipes de Nossa Senhora, qual seja o de vos auxiliar no aprendizado da submissão, ao vos pedir de adotar voluntariamente uma Regra, de fazer apelo ao controle fraternal entre membros de uma mesma equipe, de lhes declarar as vossas omissões às regras do jogo.
Eu acho que, por vezes, há de vossa parte falta de altivez. São por demais numerosos aqueles que se vangloriam em desobedecer. Porque não haveria então cristãos que se orgulhariam em se exercitarem à submissão?

Henri Caffarel
(1) Carta Mensal de março de 1952. Trechos do Editorial do Pe. Henri Caffarel 

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